Desço, sem lenço nem documento, abro os braços para impedir uma tragédia e a criatura passa como uma bala. O que os motoristas presenciaram na sequência foi uma desajustada ziguezagueando entre os caminhões, agitando as mãos para o alto e pedindo para pararem, enquanto o animal diminuía no horizonte. E a cena se repetiu quando ele resolveu correr o mesmo percurso de volta e subir a Alberto Willo, em direção a Moema.
No cruzamento do final da ladeira, a asma e eu estancamos, indecisas para onde continuar. E Bruno e Rafael, que estavam indo almoçar na Castelo Branco, caminho inverso do nosso original, ofereceram a milagrosa carona — que nem por meio segundo cogitei recusar, enquanto eles consideravam a hipótese de os meus 48 quilos integrarem uma quadrilha.
Até a Miosótis, Com Bruno dirigindo feito ambulância e espalhando nossos contatos de boteco a PM, as pistas dos moradores seguiam quentes. Já na Praça da Árvore, quase 40 minutos depois do início da perseguição, ninguém mais tinha visto o bicho. Pedi, então, o celular emprestado do Rafael para avisar que estava viva, ligando para o meu próprio telefone, único que sei de cor, e Leo me resgatou no metrô.
Inconformada, na continuação do trajeto a Santo André, publiquei um post no Facebook, que alcançou 194 compartilhamentos. Mas foi pelo Instagram que Cristine Busch indicou o grupo "Cachorro Perdido em SP, capital", onde encontrei este cartaz, já de volta a Sorocaba, divulgado apenas 53 minutos antes — e com uma única curtida, no fim do feed:
O maratonista era uma cachorra! Telefonei para a Camila na hora, dividi a experiência do Gatoca com fugas, publiquei um texto caprichado no mesmo grupo do Facebook, que alcançou mais 222 compartilhamentos, e de tempos em tempos curtia cada um deles para que Nina ficasse sempre visível. Domingo virou quarta-feira de cinzas.
Às 14h45, depois de três insônias e duas gastrites, chegou a tão esperada notícia: a bichinha havia entrado no quintal de uma casa no Planalto Paulista (!), exausta, e a família a reconheceu pelos nossos apelos nas redes sociais! Camila, com quem eu conversei durante todo esse período, a estava hospedando para que Ana Paula, a verdadeira tutora, curtisse o carnaval em Natal. E é claro que a coitada bateu no aeroporto e pegou o avião de volta.
O vídeo do reencontro das duas emociona até paralelepípedo:
Mas tinha mais! A história de adoção da Nina fez valer cada minuto do esforço coletivo para recuperá-la:
Eu me mudei para São Paulo em janeiro, mas trouxe a Nina não faz nem duas semanas. Ela estava ficando na casa da minha mãe, em Minas mesmo. Vim para trabalhar, sou engenheira. Nina deu cria na rua da casa em que eu morava, há uns quatro anos, de seis filhotinhos. A menina que morava comigo encontrou-os no meio do mato, mas ninguém conseguia chegar perto, porque ela é muito medrosa. Saía correndo toda vez. Você viu como ela corre! É assim com todo mundo, traumatizada.
Essa menina e eu resolvemos levar os filhotes para casa, contra a vontade das outras, que moravam com a gente. Coloquei, então, todo mundo na garagem, deixei o portão aberto e, quando a Nina entrou para ficar junto, fechei. E foi assim que a resgatei. Doei os filhotes e acabei adotando-a porque ninguém iria querer uma cachorra tão medrosa, que não gosta nem de carinho.
Paguei consulta com adestradores, tratei o medo dela com medicação. Comigo ela é quase uma cachorra normal. Das outras pessoas, não chega nem perto. Acho que nem era cachorra de rua, porque eles geralmente são carentes, acostumados com pessoas ao redor. Acredito que ela tinha um dono e era maltratada para sentir esse medo gigante de humanos.
Por isso fiquei desesperada quando ela fugiu. Ela tem muito medo de carros, de barulho, de sombras até. Imagino o desespero em ficar perdida nas ruas movimentadas de São Paulo. Disse para minha mãe hoje que isso me fez ver quanta gente boa ainda existe neste mundo!
Muita gente se dispôs a ajudar, muita gente se preocupou — claro que encontrei também pessoas que me desanimavam, que falavam que ela devia estar morta, que riam quando eu confessava meu desespero.
O amor da Nina é o mais puro que já conheci, porque ela me ama sem querer nem ao menos um carinho.
Por isso eu insisto, há quase 13 anos, no poder que a gente tem juntos! E que cada ação importa, mesmo uma curtida em redes sociais. Na semana que vem, aliás, compartilharei as dicas de seis experiências bem-sucedidas para recuperar cachorros e gatos perdidos — ou tutores. rs
Seguimos coladinhos? ❤️
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Nossa, parece uma daquelas novelas cheias de aventuras.
ResponderExcluirParabéns a todos os que participaram dessa maravilhosa corrente do bem!
Que final feliz...
ResponderExcluirDesde o dia em que vi seu post, não parei de pensar nela. Fico muito feliz que tudo terminou bem. A união faz realmente, a força
ResponderExcluirQue história mais linda!!! E ainda mais tendo final feliz!!!❤ Que Deus abençoe guarde cada envolvido e claro, á Nina também. Fico feliz que meu grupo tenha sido útil para reunir mais uma família. E parabéns especial à família que acolheu e tirou a Nina da rua... por mais pessoas assim. ��
ResponderExcluirObs: galera, pets sempre com identificação e castrado, por favor!��
Amém!! Aleluia!! Viva!!
ResponderExcluirQuem ama cuida, incondicionalmente!!
Que esse amor e cuidados com todos se multiplique no mundo!
Que história!!! Que bom que a Nina pode voltar pra casa em segurança !
ResponderExcluirAh, como é bom saber de histórias como essa! Nina é uma cachorrinha muito sortuda
ResponderExcluirImagino a felicidade de ambos, tive experiência recente com o cachorro do meu filho e foi um desespero total. A felicidade e o alívio quando foi encontrado é indescritível.
ResponderExcluir❤ Incrível! ❤
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