Léo foi encontrado vagando pelas ruas de Santos com o nariz sangrando. Diziam que adorava outros animais, mas morria de medo de gente. Desde que Patrícia o resgatou, em agosto desse ano, até o almoço de quinta-feira passada, morou no Capão Redondo (uma adoção fracassada), mudou de lar temporário duas vezes, entrou e saiu de várias clínicas veterinárias. Nunca chegava a hora de descansar o coração no tapete macio de uma daquelas famílias dos comerciais de margarina. Culpa da saúde frágil e do gênio arisco. Após reviver tantas situações de abandono, seu olhar cobriu-se de resignação. Parecia que havia deixado de acreditar.
Quando me perguntaram se eu podia hospedá-lo aqui em casa durante três dias, pois no Ipiranga, onde fizera a biopsia devido a uma suspeita de câncer de pele, ele estava se recusando a comer, não tive como negar. Comprei uma bacia nova para a areia, três latinhas Sabor & Vida (as únicas que ele gosta) e dirigi duas horas sob o sol causticante de São Paulo. No final de semana, o leãozinho iria para sua morada definitiva, na Zona Norte, onde quatro bigodes e um casal de velhinhos aposentados andavam colecionando baldes de amor para despejar-lhe.
Soltei o peludo no meu quarto e fiquei surpresa em ver que, ao invés de se esconder embaixo da cama, como de costume, ele preferiu deitar no cobertor. Levantava apenas para mudar de posição e não era raro pegá-lo sentado com o focinho misteriosamente grudado na parede.
No primeiro dia, encaixei o pote de ração no colar elisabetano, mas o desastrado mexeu a cabeça bruscamente e voou bolinha para todo canto. Passei, então, a colocar uma a uma na base de plástico e fazer barreira com o dedo. Se elas rolavam para o fundo, ele entrava em pânico e gastava mais tempo tentando limpar o pescoço do que comendo. Aí, eu o enchia de carinho e o ronronar vinha acompanhado de massinha no colchão.
Ele não queria saber de colo, mas se arrastava sorrateiramente para perto do meu braço e tombava a cabeça encapada ao menor sinal de cafuné. Apesar de não miar, emitia um monte de sons engraçados pela boca.
No segundo dia, percebendo que o sofrimento desgastara também o comportamento feral, decidi oferecer a ração seca direto na mão. Se ele esquecia de mastigar e ficava vidrado, eu investia na latinha. Ao aborrecer-se com a dificuldade de engolir, reforçava a propaganda e o cheiro tratava logo de abrir o apetite. Só faltava beber água e usar a caixinha.
Tarde da noite, quando resolveu dar as caras, o cocô provocou uma verdadeira revolução: farejei o perfume da sala, deparei-me com o colar elisabetano completamente lambuzado, escancarei as janelas e corri para buscar o vidro de álcool. Na volta, Mercvrivs sorria do lado de dentro do recinto e o ser laranja passeava entre as folhagens do jardim de inverno. Revigorada, a criatura secou a tigela de água em cinco segundos e ainda deu dois tapas certeiros na minha perna.
O terceiro dia foi o da despedida. Tomei banho com o bichano tagarelando no tapete de toalha e aguardamos angustiados a Patrícia tocar a campainha. Como na clínica do Ipiranga ele adentrara a caixinha de transporte sozinho e viera o percurso inteiro quieto, imaginei que não criaria problemas. Acontece que do flat Levischi o gatão escaldado não pretendia ir embora. Debateu-se tanto contra as grades de ferro, que o rosto virou uma poça de sangue com orelhas. E ao aportar em Santana, tornou a se enfiar embaixo da cama. Fiquei me sentindo um monstro. Se eu morasse sozinha, se o jornalismo pagasse melhor, se a fazenda de bigodes saísse do mundo dos sonhos...
Eis que, ontem, Alexandre ligou para contar que, livre do colar elisabetano, o leãozinho está até brincando! Espero que, finalmente, possa curtir a aposentadoria merecida, com direito a muitos sachês de frango e ratinhos de catnip! *dedos cruzados*
Que coisa mais fofa! Vamos torcer para que ele se adapte e possa ter uma vidinha tranqüila e cheia de amor! Estou lhe devendo um e-mail, assim que acabar a correria juro que lhe respondo!
ResponderExcluirparece com o meu Zêzê...
ResponderExcluirMude para o interior. Serei sua "sócia". Ou cúmplice.
ResponderExcluirDenise
Tenho certeza que o Léo nunca esquecerá esse anjo que cuidou dele com tanto amor!
ResponderExcluir:)
Faz tempo que queria saber noticias deles. Eu teria adotado, mas nao posso adotar macho =( conheci a historia dele no gatinhosdetodaparte, espero que agora ele encontre um lar definitivo. Ele tem uma cara muito sofrida =/
ResponderExcluirÔ mo Deuso que dó... Bjs
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No fim, deu tudo certo, gente. Ufa!
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