Foi no dia 12, uma sexta-feira que deveria ser de faxina, mas acabou suspensa no calendário pelos cuidados com a Chocolate ― e a expectativa angustiante da partida. Por isso não contei antes, inclusive. Sentei no jardim buscando um respiro, já que outra vida só viria acompanhada de outra encarnação, e Intrú correu para encaixar a cabeça gigante no meu cafuné.
Ensaiou passar sobre as pernas cruzadas para um lado, para o outro, se equilibrou nos ossos mal-embrulhados. Até que deitou, com a cara bem enfiadinha para não restar dúvidas de que se tratava de um colo. E ronronou. De boca aberta, sua marca registrada.
Deixei o vídeo completo para vocês também aproveitarem em caso de cinzentura ― foi tanto colo que a música acabou. Duas vezes (na segunda roubei e fiz uma emenda). rs
Para não acharem, então, que se trata sempre do mesmo gato nos posts, fica a dica: Keka tem cavanhaque, Pips bigode, Intrú máscara e Jujuba é diferente. rs
Este texto em especial traz o colorido da Lucia Trindade e da Aline Silva, estreando no Gramado da Fama. Lucia acompanha o Gatoca há uma década, mora no Rio de Janeiro, trabalha com museus (sonho!) e batizou um dos peludos de Balão. A paulistana Aline faz pesquisas na área de química, tem quatro idosos e tirou Gordinha da crise com as dicas que aprendeu aqui sobre soro subcutâneo e alimentação úmida. Bem-vindas oficialmente, meninas!
Um aperto a distância também para Adrina Barth, Alice Gap, Itacira Ociama, Regina Haagen, Renata Godoy, Leonardo Eichinger, Irene Icimoto, Tati Pagamisse, Roberta Herrera, Vanessa Araújo, Dani Cavalcanti, Samanta Ebling, Bárbara Santos, Marina Kater, Sonia Oliveira, Marcelo Verdegay, Patrícia Urbano, Fernanda Leite Barreto...
... Bárbara Toledo, Solimar Grande, Aline Silpe, Lucia Mesquita, Michele Strohschein, Marilene Eichinger, Guiga Müller, Sérgio Amorim, Gatinhos da Família F., Luca Rischbieter, Rosana Rios, Regina Hein, Paula Melo, Paulo André Munhoz, Marianna Ulbrik, Cristina Rebouças, Lorena da Fonseca, Karine Eslabão, Michely Nishimura...
...Danilo, Klay Kopavnick, Glaucia Almeida, Ana Cris Rosa, Ana Hilda Costa, Lia Paim, Elisângela Dias, Ivoneide Rodrigues, Melissa Menegolo, Vanessa Almeida, Vivian Vano, Maria Beatriz Ribeiro, Elaigne Rodrigues, Simone Castro, Beatriz Terenzi, Viviane Silva, Regina Hansen, Arina Alba, July Grafe, Sandra Malacrida, Vera e Gabriela Fromme, que não deixam o projeto morrer! 🤗
(Tem um troco sobrando, gosta do nosso trabalho e quer se tornar apoiador também? Dá uma fuçada nas recompensas da campanha — aqui fiz um resumo das principais ações, on e offline, destes 16 anos e meio. ❤)
A foto de quando Intrú pisou no cobertor não tem a melhor qualidade e, apesar de a gente aprender no jornalismo que vale mais o registro histórico do que a plasticidade, achei melhor abrir este post com o clique das apresentações ― o frajola precisa de uma família e não podemos nos dar o luxo de contrariar os algoritmos, né?
Araçoiaba da Serra nesta época do ano lembra o deserto, com dias quentes e noites frias, o que me fez antecipar a compra do cobertorzinho. Seguindo as dicas das meninas no Cluboca, nosso clube maravilhoso de apoiadores, aliás, optei pela versão humana de solteiro, bem maior e mais barata do que as de pet ― ainda posso cortar e ter uma opção de troca para o dia da lavagem.
O pacote chegou quase junto com a criatura, que estava desaparecida há dois dias e meio ― seria muito triste segurar a manta de microfibra encarando a casinha vazia. Esperei anoitecer e mal tive tempo de ajeitar no chalé porque o peludo pulou para dentro, sem se importar com os cheiros estranhos.
A grande surpresa, porém, foi notar, já da lavanderia, a bundinha balançando do lado de fora. Saí de novo para confirmar e me deparei com esta cena:
Dez ataques depois, o encardido estava fazendo massinha (e mamando!) no seu primeiro cobertor. ❤️
De todos os cuspes que me voltaram na testa durante estas quase duas décadas de proteção animal, ter um gato que vai para a rua lidera o ranking. Ok, Intrú não é exatamente meu, embora não concorde com essa interpretação dos fatos. E para sair de casa precisaria antes entrar, coisa que nunca aconteceu por causa da FeLV, que o impede de confraternizar com minhas velhinhas.
Tecnicalidades à parte, o frajola passa a maior parte do tempo por aqui, mas nenhum muro de 2 m de altura consegue segurá-lo no terreno quando bate "os cinco minutos" ― não sei do que, porque o cara de pau tem comida e roupa lavada. E está castrado!
Eis que no sábado à noite ele se jogou no mundo e não retornou para o café da manhã. Nem para o almoço. Nem para o jantar. Nem no domingo. Nem na segunda. Eu rodei o bairro chacoalhando o potinho de ração, conversei com o pessoal que está asfaltando a rua que desce, com os lixeiros, escrevi para o grupo de moradores, para a ONG, para os dois veterinários da cidade.
E chorei ― justo agora, que a pança estava começando a tomar forma?
Na terça-feira, ele brotou do solo com tanta fome que comeu a ração renal infestada de formigas que a gente havia deixado no jardim. E a ração dele. E um resto de sachê das meninas. E a latinha favorita da Pet Delícia. Nenhum arranhão. Entendi as mães que falam para os filhos que, se fizerem algo que coloque a vida em risco, vão matá-los. A sensação é essa mesmo ― alívio com nariz de palhaço.
De lá para cá, me pergunto sem sucesso: onde a criatura estava?
a) Com a segunda família, tóxica.
b) Vagando sem rumo ao bater a cabeça e perder a memória.
c) Preso em uma casa de veraneio, depois de filar a bacalhoada de Páscoa.
d) No caminho de Santiago de Compostela para ressignificar a existência.
e) Trabalhando uberizado com a pressão de quitar dívida de catnip.
Minha foto favorita da Chocolate é a do aniversário do ano passado, em que ela curte o vento de olhos fechados, já surda, no seu lugar preferido do gatil: o tronco de árvore que Leo arrastou pelo bairro quando nos mudamos para Araçoiaba, depois de um dos surtos de poda sem critério da companhia de energia elétrica.
Foram dois anos e pouco de contemplação de paisagem, afiação frenética das garrafas, degustação de matinho ― sempre emoldurada pelas capuchinhas, a flor perfeita para quem prefere cuidar de gatos. Com a ataxia intermitente, porém, o equilíbrio da pequena ficou prejudicado e hoje me toquei que ela não consegue mais aproveitar o tronquinho.
Havia levado a peluda ao jardim para os cliques do Gramado da Fama e ela subiu sozinha, como nos velhos tempos, mas fez a travessia inteira se esforçando para não cair ― até desistir e voltar para a caminha. Veterinário da cidade e equipe de raio-x já passaram por aqui, conto com calma em outro post. Todo mundo elogiou os 17 anos da ranheta. Mas isso não me impediu de ficar chateada.
Obrigada triplamente por quem continua acompanhando o Gatoca nesta fase geriátrica! ❤ E especialmente aos apoiadores, que acreditam que a gente ainda pode despiorar o mundo juntos ― só estou tomando um ar, rs. No último mês, 10% das assinaturas do Catarse acabaram inativadas e essa grana faz diferença. :\
Bem-vinda, Isabella Cantelles! Espero que o Cluboca seja a acolhida que você buscava para a Jova e seu rim solo. Já Gabi e Vera Fromme podem botar o pé no sofá porque estão nos bastidores do projeto desde a adoção da Flea e do Snow ― 14 anos, gente!
Encerro com um aperto a distância nos resilientes Adrina Barth, Alice Gap, Itacira Ociama, Regina Haagen, Renata Godoy, Leonardo Eichinger, Irene Icimoto, Tati Pagamisse, Roberta Herrera, Vanessa Araújo, Dani Cavalcanti, Samanta Ebling, Bárbara Santos, Marina Kater, Sonia Oliveira, Marcelo Verdegay, Patrícia Urbano, Fernanda Leite Barreto...
... Bárbara Toledo, Solimar Grande, Aline Silpe, Lucia Mesquita, Michele Strohschein, Marilene Eichinger, Guiga Müller, Sérgio Amorim, Gatinhos da Família F., Luca Rischbieter, Rosana Rios, Regina Hein, Paula Melo, Paulo André Munhoz, Marianna Ulbrik, Cristina Rebouças, Lorena da Fonseca, Karine Eslabão, Michely Nishimura...
...Danilo, Klay Kopavnick, Glaucia Almeida, Ana Cris Rosa, Ana Hilda Costa, Lia Paim, Elisângela Dias, Ivoneide Rodrigues, Melissa Menegolo, Vanessa Almeida, Vivian Vano, Maria Beatriz Ribeiro, Elaigne Rodrigues, Simone Castro, Beatriz Terenzi, Viviane Silva, Regina Hansen, Arina Alba, July Grafe e Sandra Malacrida! 🤗
(Tem um troco sobrando, gosta do nosso trabalho e quer se tornar apoiador também? Dá uma fuçada nas recompensas da campanha — aqui fiz um resumo das principais ações, on e offline, destes 16 anos e meio de projeto. ❤)
Tem coisa mais frustrante do que ganhar presente que você precisa esperar para usar (porque ainda não serve, porque veio sem pilhas, porque te falta uma piscina)? Pois fazia tempo que eu namorava um puzzle toy para o Intrú, que sofre da síndrome do pote vazio, não sentir fome (ou assassinar meia fauna de Araçoiaba da Serra) quando a gente precisa passar o dia fora.
O problema é que as formigas do jardim avançam na ração antes mesmo de ele terminar de comer e fica difícil deixar qualquer coisa lá fora ― inclusive nossos corpos. Até do comedouro antiformigas da Tok&Stok elas riem!
Aí, Viviane comentou no Cluboca sobre as placas que sua família usa há 20 anos e me permiti sonhar: comprei três, com a ajuda das madrinhas do frajola, para apoiar bem o tabuleiro.
Logo de cara, precisei improvisar com fita adesiva porque a superfície, lisa demais, fazia o brinquedo escorregar, o que tornaria o desafio de movimentar as pecinhas para descobrir as guloseimas uma tortura.
Mas frustrante mesmo foi voltar de Sorocaba, horas depois, e encontrar o comedouro interativo intocado pelo gato e dominado pelas formigas.
Sempre que dizem que um mundo liderado por mulheres não teria guerras, o patriarcado esperneia, mas Intrú está aqui para provar que, 88 dias depois da castração e com 75% menos testosterona na cachola, os ataques cessaram. Quer dizer, ele mordeu quando Leo enfiou a mão dentro da casinha nova, só que invasão de propriedade privada é crime, né?
E anteontem afastou meus dedos do cafuné com os caninos porque o café da manhã estava atrasado, comportamento justificado, pois qualquer um fica mal-humorado com fome ― e nem saiu sangue. Cada dia mais carente, posso fazer carinho sem usar a comida como distração, que ele recebe de boca aberta e com uma cara de bobo irresistível.
Acabei não registrando a primeira vez que baixamos a guarda, humana e felina, quase três meses depois do início desta epopeia. Mas foi mais ou menos assim:
Continua faltando a família que possa amar o frajola FeLV+ do outro lado da porta de vidro da lavanderia (contato@gatoca.com.br).
Ele tem até chaminé ― eu escreveria, se este post fosse um livro infantil. Mas, como se trata de vida real, preciso confessar que nosso pedido por madrinhas não conseguiu furar a bolha. Sorte minha poder contar com a comunidade maravilhosa de apoiadores do Gatoca, que apertou um tico mais para incluir o Intrú nas contas do mês.
Em janeiro de 2024, nascia Intrusoca, nosso grupo-amor no WhatsApp, com Telhado da Fama em agradecimento! Alice, Samanta, Renata, Vanessa, Paula, Elaigne, Bárbara, Melissa, Reginas, Solimar, Lorena, Michele, Adrina, Fernanda, Roberta, Viviane, Liliane, Neide, Glaucia, vocês sabem o valor dessa rede, né? E seja bem-vinda, Elisa Serikawa! 💙
A casinha, que eu já havia comprado porque o toldo não estava dando conta dos temporais, virou a primeira empreitada coletiva, pois só chegou depois. E o frajola surpreendeu todo mundo entrando assim que desembrulhamos! Escolhi um modelo desencaixável porque, se a criatura desconfiada não acostumasse com ela fechada, ao menos salvaria a parte debaixo.
Ainda paguei pelo tamanho de cachorro de porte médio! 😂
Para facilitar a adaptação, inventei a configuração "teto solar" ― Leo tentou convencê-lo a testar o formato original, logo no primeiro dia, e tomou uma mordida.
Intrú prefere criar livremente.
Mas, quando choveu feio, acabou cedendo ― mentira! Primeiro ele esgoelou, profundamente indignado.
"É só deixar o potinho com a ração na porta que gato de rua come e vai embora", eles disseram. Corta para o final janeiro de 2024, três meses depois do início do Projeto Intruso:
Aqui em Gatoca, nem formiga come e vai embora, rs. E o frajola foi castrado, testado para FIV e FeLV (positivo para leucemia felina, infelizmente), despulgado, vermifugado. Acontece que o tempo passou, a família (ainda) não apareceu e os vermes voltaram. Os 200 pacotes começados de ração que minhas velhinhas abandonaram também acabaram. E os temporais pedem um abrigo.
Não vou deixar faltar nada disso ao pequeno. Mas está pesado, principalmente para quem colecionou dez bigodes idosos ao mesmo tempo ― e não se planejou para adotar mais um. Quem topa participar da rede de apoio que tornará a vida do Intrú do lado de fora da lavanderia o mais próximo possível deste lado de cá?
Pretendo manter a alimentação super premium para ajudar na imunidade e porque nunca fiz diferença entre amores fixos e temporários. O antipulgas e o vermífugo, pelo jeito, precisarão de reaplicação a cada dois meses. E a casinha já comprei, porque o coitado quer tanto ficar perto que prefere se molhar inteiro a se proteger embaixo do contêiner ― o toldo não tem dado conta das chuvas de vento.
Em troca, vou criar um grupo exclusivo no WhatsApp para compartilhar as peripécias do figura em tempo real. Mulherada que me escreveu confessando que gostaria de adotá-lo, mas não pode: eis a chance de se aprochegar! Mandem sinal de fumaça para: contato@gatoca.com.br ou me procurem nas redes sociais?
Dezembro e janeiro são meses de falência financeira por motivos de: Natal, impostos, material escolar. Isso para trabalhadores assalariados precarizados, porque Intrú, que nasceu com alma de CEO de startup, está curtindo a vida adoidado. De manhã, aproveita o sol na beira da piscina.
Depois, almoça sapo ou lagartinho assassinado, com sorvete de Pet Delícia.
E faz a sesta na suíte presidencial...
...equipada com ar-condicionado de lataria de contêiner.
Às quintas, tem bungee jump.
Às sextas, futebol...
...e cervejinha com os amigos.
Aos sábados, brincadeira de estátua.
...ou de caçar cortador de grama.
E, aos domingos, soneca na king size.
Para a experiência ficar completa, só falta ganhar uma família (contato@gatoca.com.br). ❤
Quando bati o olho na versão terracota do Intrú, fiquei pensando: onde uma criatura que passa a maior parte do dia tomando banho se sujaria desse jeito? A resposta veio no primeiro carinho, em relevo: um corte de fora a fora nas costas mais vários machucados na cabeça, disfarçados entre os pelos.
O coração encolheu. Nunca tive gatos que vão para a rua, justamente porque eles podem levar a pior em brigas com outros gatos (e até cachorros), morrer atropelados ou envenenados por aquele vizinho que odeia bicho, pegar doenças sem cura como a FeLV ― um dos motivos pelos quais não posso colocar o frajola testado positivo para dentro de casa.
O barro demorou vários paninhos com sabonete neutro e água morna para sair ― como sempre, aproveitei o foco na comida e o coitado ficou receoso no começo, mas no final deixou esfregar até as orelhas. Pensem em um gato que nunca foi cuidado! Já as feridas persistem, uma semana depois e longe do reflorestamento da pelagem perdida.
Só não desanimei de vez porque hoje completam 44 dias da castração do encardido, exatamente quando a testosterona, hormônio responsável pela disputa por fêmeas e território, entra na meia-vida ― metade da concentração original, pela retirada dos testículos, até restar apenas os 10% que passarão a ser produzidos pelas glândulas adrenais.
O clássico xixi de marcação não o vejo fazendo há um tempo. Só que, sem uma família exclusiva (experiente, com enriquecimento ambiental e zero gato), o pequeno vai continuar morando do lado errado da porta de vidro da lavanderia, no mês dos temporais.
Em um misticismo exclusivo, os anos terminados em três marcam transformações profundas em mim. Foi em 2003 que precisei me dividir entre o trabalho e o hospital até dona Vera perder uma longa batalha contra o câncer, perto do Natal ― e que também tive de aprender a fazer arroz, lavar privada, cuidar dos irmãos mais novos, multiplicar dinheiro no supermercado.
Em 2013, deixei o casarão de uma vida inteira para caber com dez gatos, o Leo e, esporadicamente, as enteadas em um apertamento de 60 m2. Meu apertamento ― depois de uma reforma "faça você mesmo", apelidada de terapia. Uns meses antes, por causa das crises recorrentes de alergia e asma, já havia decidido parar com os resgates e redirecionar os esforços do Gatoca para a educação.
Se minha mãe estivesse viva, provavelmente confirmaria que em 1983 juntou coragem para se separar do alcoolismo do meu pai e nos mudamos para o prédio em que minha avó morreu antes de cumprir a promessa de sorvete toda a tarde, quando o shopping em frente ficasse pronto ― para voltar atrás pouco tempo depois. A mãe, não a avó.
E deve ter sido em 1993 que sofri um bullying persistente por nunca ter beijado na boca ― resolvi inventar um caso na viagem com as "amigas" à Caraguatatuba, que acabou desmascarado e só piorou tudo. Para dar uma ideia do impacto, o beijo de verdade tardou mais cinco anos ― e, por favor, não façam as contas.
Finalmente chegamos a 2023, assunto desta retrospectiva, com três gatas mortas em 15 semanas, a expectativa de um sabático ao final destas quase duas décadas felinas e um intruso estragando tudo. Guda partiu em março, com 17 anos, Pipoca em julho e Pufosa dois dias depois, ambas com 16.
A dinâmica da casa, acostumada a nove bichos preenchendo vazios e silêncios, mudou completamente ― ainda não acostumei a me referir à gangue no feminino. Sem a mãe e metade das irmãs, Jujuba virou uma gata carente e Keka deu para me acordar aos berros cada vez mais cedo ― 4h44 o recorde! Quem não mudou foi o Leo (amo essa foto!), parceiro de soro, de obra, de cova.
Comentei aqui no blog que envelhecer com os bigodes tem me feito enxergar o tempo de outra forma ― as adaptações demoram mais, o corpo não funciona do mesmo jeito, a gente precisa fazer um esforço ativo para não deixar a curiosidade morrer junto com o resto.
O blog perdeu o puxadinho no servidor de mais de uma década, passando justo o 1º de abril fora do ar. E ainda assistimos portão e telhado araçoiabanos voarem com o temporal de novembro ― que também nos deixou sem luz e água por três dias. Nos intervalos, porém, a gente comemorou.
Eu já contei aqui que não sou uma adulta natalina ― nem de rituais em geral. Gosto de marcar começos e encerramentos de ciclos, mas de um jeito que faça sentido para mim, não por imposição social. Na infância, inclusive, aproveitava o pacote completo do Natal, com pinheiro natural, presépio decorado, luzinhas na calçada, Papai Noel deixando rastro de brocal, uvas passas herdadas dos panetones alheios.
Depois deste 2023 desafiador, Leo e eu decidimos, então, ficar por aqui mesmo, em Araçoiaba, com lasanha de marmita e a companhia dos gatos sobreviventes ― de volta ao masculino porque Intrú fez questão de participar da ceia da tarde.
Pimenta foi a única que ganhou brinquedo, já que, 16 anos e 7 meses depois, ainda se diverte caçando bichos animados e inanimados. Batizei o ratinho de Topo Gigio, um sonho nunca realizado, pois a Bia criança queria uma versão que falasse e se mexesse sozinha, como a da televisão.
Já Keka não conseguiu aproveitar nem os croquetes nem o parquinho, porque perdeu quase 1 kg desde o ataque do Intrú ― como as irmãs, ela também passou dos 16 anos, avançada na insuficiência renal. Mas compensei comprando uma ração nova, ainda mais cara do que a anterior, pois o céu é o limite para essa gente. E o paladar seletivo da frajola aprovou!
E Intrú ficou com os de segunda mão, como todo irmão mais novo ― a caminha Leo improvisou por causa das noites frias. A ideia é ele acostumar com ela no seu cantinho favorito para depois a gente colocar em um lugar mais protegido.
No sachê especial a criatura nem tocou, preferindo a boa e velha Pet Delícia ― não sem antes me bater (story nos destaques do Instagram). Capacidade de lidar com a frustração: 2, cruzado de esquerda: 10. rs
Ainda rolou o Amigo Secreto de Talentos do Cluboca, nosso grupo de apoiadores, em que presenteei a Adrina com uma radionovela de O Gato e o Diabo, escrito por James Joyce ― foram três dias para gravar a narração (prefeitura asfaltado a rua com caminhões da Idade Média), incluir a trilha sonora e os barulhinhos todos, fotografar e tratar a imagem da Pips.
E da Vanessa ganhei esta ilustra com o Intrú, que ainda procura uma família para poder morar do outro lado da porta de vidro.
Também a versão digital do livro Relatos de um Gato Viajante, de Hiro Arikawa, um vídeo de bigodices e esta mensagem apertável:
Meus presentes são a razão disso aqui existir (de novo Bia!). Separei uma imagem que me fez pensar em você com o Intrú e aquele livro que falei: Relatos de um Gato Viajante. Não só porque os seus viajaram um bocado contigo (SBC, Sorocaba, Araçoiaba) como também porque tanto a vida quanto a passagem para o outro lado são uma viagem, e me conforta pensar que, de vez em quando, tanto nós quanto nossos amados gatinhos viajamos cruzando a fronteira entre os planos para matar a saudade. ❤️
Espero que o festerê por aí tenha tido a cara de vocês. A retrospectiva vai ficar para o ano que vem, quando todo mundo voltar à rotina de pagador de boletos, para compensar a trabalheira. :)
Ok, eu não sou mais filhote para acreditar em idosos obesos que cabem em chaminés, mas resolvi apelar porque Márcia disse que preciso de um milagre ― viu que estou por dentro dos memes das redes sociais?
Tive quatro anos de vida louca na rua: cacei todo tipo de bicho, passei o rodo geral, briguei sem perder um pedacinho sequer das orelhas. Só que estou cansado, sabe? Quando vi que é possível receber cafuné em vez de vassourada, poder comer devagar, sem medo e tomar sol largadão, confesso que tentei roubar essa família.
Outras gatas, porém, chegaram antes de mim. E elas são velhas, renais e apelonas. Acredita que meu clone frajola parou de comer só porque me vê pela porta de vidro? Bom, talvez ela se lembre que eu lhe dei uns sopapos quando invadi o gatil.
Mas não é justo, porque ela continua com a melhor parte! Posso dizer com propriedade, pois consegui entrar no quarto da Márcia esses dias. Precisa ver a cara dela, alérgica a gatos, saindo do chuveiro! Essa, na verdade, foi minha segunda aventura. Na primeira, ela ficou perplexa por me pegar deitado no chão e não na cama. Eu sei lá o que é cama!
Só queria companhia. Sigo a Márcia pelas janelas, mio para chamar a atenção, acontece que, se ela se mexe de um jeito que eu não esperava, lembro de todas as vezes em que me machucaram e o ataque escapa. Pelo menos da última não saiu sangue. Ela comemorou. Eu também, porque posso ganhar mais carinhos ― que faço questão de receber com a boca aberta.
Os xixis de marcação de território já superei. A castração também me tirou a vontade de paquerar as minas e sair na mão com os manés. Mas não me peça para passar a madrugada embaixo do contêiner porque também não virei padre, né? Márcia fica angustiada e fala que minha casa precisará de enriquecimento ambiental.
Ainda tem a tal da FeLV, que sequer entendi e, mesmo assim, diminui minhas chances de recomeçar. O que pode ganhar de patinhas de elefante?
Ah, sim, eu dou prejuízo na ração, não vou mentir. Mas sou um gato de gostos simples ― transformo pedra em travesseiro!
E, quando começa a chover, para aumentar a culpa da Márcia, pisco de um olho só. Me arruma um cover dela? Nunca te pedi nada!
Valeu, falou!
Intrú/Quino
P.S.: Estou publicando stories com frequência do figura no Instagram, todos reunidos nos destaques.