.
.

31.8.07

Muito com pouco

Essa manhã, o Edifício Gatoca passou uma reforma geral: a fachada ganhara cores vibrantes e o interior, mobiliário de design arrojado. No bairro, bem localizado, seguro e arborizado, costumam passear felinos famosos como Garfield, Félix, Tom e Cheshire.

Ok, ok, eu só mudei as caixas empilhadas de lugar na sala. Mas foi como se recebessem um sopro de vida. Sempre me surpreendo com a paixão dos bigodes por novidades (principalmente quando qualquer mínima alteração no contexto se enquadre em tal descrição).

No dia em que montamos a primeira versão do predinho, Clara Luz pulou logo para o último andar, Simba ficou com o segundo (bem longe do gatil) e Mercvrivs, invejando a coragem dos destemidos, acabou por recusar o térreo. Hoje, não há telhado no bairro que o peludo desconheça em suas escapadelas – e alguns pisos também, mas isso já é história para uma outra crônica.

30.8.07

Crescimento em ritmo de bolo

Parece que toda a manhã, quando abro a porta do quartinho para os Gudos, eles estão maiores. Como se dormissem no forno, polvilhados com fermento. Essa fase dos tamanhos compactos, barulhos de Atari e brincadeiras malucas deveria durar mais tempo.

29.8.07

Presentes fedidos

Esses amigos que dão tigrinhos de pelúcia encardidos obrigam os gatos a submetê-los a intermináveis sessões de beleza. Praticamente o Dia da Noiva. Obrigada pelo mimo, Fê. :)

28.8.07

Etiqueta das ruas

A idéia de usar recipientes maiores para a comida e bebida dos gatos parecia tão perfeita, que não me lembrei da falta de sociabilidade do Simba à mesa. Agora, se alguém chega perto da assadeira quando ele está almoçando, é presenteado com um croque relâmpago: a gente nem vê a pata laranja se mexendo, só a cabeça do coitado abaixando e levantando com o impacto.

27.8.07

Evolução em potes

O primeiro potinho de comida do Mercvrivs era um tapeware. Até comprarmos as clássicas tigelas de plástico no pet shop. Quando Clara e Simba chegaram, tive de substituir o recipiente de água pelos de alumínio com areia no fundo, evitando que a sala vivesse alagada. Hoje, trouxe da loja de R$ 1,99 uma assadeira tamanho família para a ração do exército de bigodes e uma vasilha de cachorro para as bebidas.

24.8.07

Hospedeiro seguro

Suspeito que Simba é o único gato aqui de casa que traz pulgas da rua porque elas não devem gostar de emoções fortes. Se Clara vive pulando, Chocolate correndo e Mercv chafurdando, quem sobrou?

23.8.07

Pacote turístico com injeção

Quando Guda foi ao veterinário pela primeira vez, o chorinho de pânico era o mesmo dos outros gatos. Mas ao invés de se esconder sob os assentos do carro, preferiu viajar o caminho inteiro olhando a paisagem da janela. Ontem, para tirar os pontos da cirurgia, a curiosa ainda testou três novos ângulos de contemplação: em cima do gatil, equilibrada em duas patas, empoleirada no encosto do meu banco.

Playground gigante

Os pequenos estão na fase mais divertida da existência: aquela em que tudo vira brinquedo. Começaram afogando um dos ratinhos de gatária (primeiro presente) no pote de água, descobriram as primeiras bolinhas de papel, mastigaram as primeiras cordinhas, fizeram o primeiro caixote de mansão, com direito a teto solar.

Agora, qualquer coisa que consigam tirar do lugar –durex, baralho, toco de árvore da lareira, revista, lixo reciclável– transforma-se, rapidamente, em entretenimento. E reaparece nos cantos mais inusitados da casa.

Ontem, perceberam que as pedrinhas do jardim rolavam, apesar das arestas, e resolveram empurrá-las por toda a sala, riscando o piso. Lembro-me da época em que investia fortunas nas tranqueiras coloridas do pet shop para o Mercvrivs filhote divertir-se com a meia furada da Mariana.

20.8.07

Duro de Matar – ainda em cartaz

A força da Guda continua me impressionando. Em nenhum desses dias ela demonstrou qualquer incômodo com a faixa do veterinário. E ainda deixou os pirralhos mamarem em sua barriga costurada. Na vez da Clara Luz, o corpete ficou tão esfiapado que mais parecia um vestido do Herchcovitch.

19.8.07

Portafechadafobia

Depois de velha, resolvi ter problemas respiratórios. E eles vieram todos juntos: rinite alérgica, bronquite, sinusite. Os médicos foram categóricos ao dizer que eu deveria me livrar dos gatos (quatro na época). Retornei apenas à consulta da pneumologista, que acreditava em florais e homeopatia. Os bigodes passaram a dormir na sala.

Noite após noite, ao ouvir o barulho da porta batendo, eles se reuniam instantaneamente do outro lado, sob o ideal compartilhado de reconquistar o direito de embalar em cama macia suas aventuras oníricas, e davam início a uma arranhação sem fim. Até que o movimento perdeu a força.

Mercvrivs (primogênito mimado), porém, não se conformou até hoje. E quando comecei a trancar o corredor também, aprendeu a miar de megafone. Agora, sobe no telhado pela janela do escritório, dá a volta na casa inteira e desce no jardim de inverno do quarto, só para poder se jogar em protesto contra o batente de madeira.

17.8.07

Sugestão do chef: picolé de barata e escargot

No dia em que quase caí do muro ao perceber a cabeça de uma cascuda-asquerosa-gigante saindo da boca da Clara, jurei guardar os beijos para animais que não tivessem o costume de limpar o próprio traseiro com a língua. Meses depois, porém, os Gudinhos nasceram –lindos, macios e perfumados– e a promessa fora esquecida. Até essa manhã, quando assisti de camarote o Vaquinho mastigar uma minhoca inteira e engolir!

16.8.07

Crescer: um mal necessário

"Eu sei que é gostoso e a vida fica uma merda quando a gente pára de mamar, mas precisa". Essa foi a única explicação que consegui dar à Queixinho, depois de tirá-la do peito da Guda por ordem do veterinário.

Modelo 82 com cheiro de novidade

Quando seu Celso terminou de consertar a instalação elétrica do meu banheiro, deu de cara com sua Brasília verde calcinha transformada em poleiro. Chocolate ainda tivera a empáfia de dormir dentro porta-malas do hómi e quase acordou na favela.

Gatinha de rua

Se um dia eu puder escolher o modelo das portas da minha casa, juro que evitarei detalhes transparentes na cozinha. Não tem coisa pior que almoçar com o nariz da Guda comprimido contra o vidro.

15.8.07

Ciência x religião

― Doutor, Chocolate anda com um comportamento estranho, distribuindo agressividade sem motivo. Rosna o dia inteiro, maltrata os filhotes (que até pouco enchia de mimos), bate nos gatos adultos, quase mordeu meu nariz. Pode ser verme? Raiva? Sarna de ouvido? Dor de barriga? De dente? Coisa pior?
― A saúde dela parece ótima, Beatriz. Leva para benzer.

Eu confesso que estou longe de acreditar em duendes, bicho papão e loteria. Mas, como Dr. E. salvara Mercvrivs da morte com Gatorade de limão em 2005, resolvi dar-lhe um crédito e caminhei até a igreja mais próxima:

― Boa tarde. Vocês benzem gatos?
― ...
― E casas?
― Para quando você queria?
― Quanto custa?
― ...