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30.9.15

A arte de não ser uma família

Quando eu vi a Pufosa dormindo abraçada com a Keka, lembrei da Guda estourando de grávida. E da noite em que as meninas miaram pela primeira vez fora da barriga da mãe. E de como elas cresceram fazendo tudo juntas. E do desmame lendário, que se esticou até os 2 anos de idade, me obrigando a adotar toda a família (e colecionar dez gatos).

Segundo a Câmara dos Deputados, porém, eu não posso chamar as Gudinhas de família ― ainda que elas vivam brigando entre si. Nem posso considerar os bigodes minha família. Sim, eu trabalho dobrado para comprar a melhor ração. Saio mais cedo dos aniversários porque alguém precisa tomar remédio. Adio a troca da bolsa que os infelizes furaram para pagar o veterinário.

E sou recebida com barrigadas depois das correrias de rua. Tenho lambedores de lágrimas para os dias cinzas. Ganho afofadas múltiplas no inverno. Mas família é a união entre homem e mulher. Seguindo a sugestão do Vilson Oliveira, então, vamos chamar isso de amor ― e mandar um pouco para Brasília.

24.9.15

NeverEnding Story

A ideia era levar a caixa de transporte doada por uma leitora a Cida, a protetora-diarista do DER, e não olhar para os lados nas vielas de barro. Mas como a gente faz para desver uma gatinha morando dentro da panela? Bombom foi doada filhotica a um vizinho da comunidade e passou a maior parte dos seus 9 meses presa na corrente. Cida acabou pegando-a de volta, só que a sialata morre de medo dos outros 17 (sim, 17) bigodes do barraco.




Este post terminaria com a informação de que ela adora carinho e já está castrada. Mas o WhatsApp acaba de apitar no celular com a foto da Pelúcia, também castrada e ainda assustada pelo abandono, que a própria Cida tirou no desespero. O tutor dela resolveu se mudar para o norte e, dois anos de convivência depois, deixou a peluda para trás.


Memes são mais legais de divulgar, eu sei. De vez em quando, porém, a gente precisa salvar uma vida (ou duas). Please? :)


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:: Da favela para Hollywood!
:: Mutirão de castração é para os fortes - parte 2
:: O primeiro de nove!
:: Sementes
:: Adoção platônica
:: Adoção Gremlin
:: Quase famosos
:: Ossos e um coração partidos
:: Felicidade que nunca chega
:: Descanso merecido
:: Para bater recordes de bilheteria!
:: A arte de enxugar gelo
:: Quando a coisa fica preta
:: Desfecho frustrante
:: Refilmagem
:: Os últimos de nove
:: Favela com emoção
:: Conscientização: o trabalho por trás dos holofotes
:: Ossos e um coração colados
:: De Hollywood para o Japão
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:: Halloween da sorte 2015
:: De Richard Gere para os braços do Pepê
:: Black Friday fracassada

23.9.15

Ossos e um coração colados

A máquina de costura rendeu a Madalena uma tendinite na bacia, que transformou as tarefas mais simples do dia a dia, como caminhar até a padaria, em sessões de tortura e frustração. A tábua em queda no barraco do DER rendeu ao Brad Pitt uma fratura na bacia (e outra no fêmur), que transformou a vida dura na favela em sessões de carinho e cafuné.

Raq Vichessi compartilhou a história do branquelo no Facebook e Madá sentiu os tendões repuxarem: Brad seria o novo amigo do Calvin! Eu estava prestes a ganhar esta foto incrível, para rever sempre que sentir vontade de desistir. ♥


A filha Camilla, a namorada Marcella e até a vizinha Benê se juntaram para receber o pequeno. Guilherme, o outro filho, chegou depois, por causa da gripe. E levou de prêmio de consolação o ronrom mais alto dos bebês hollywoodianos.


Deitado na caminha, sozinho, o figura vibrava feito celular que ninguém atende.


No dia seguinte, acordou espirrando, como quase todos os irmãos nas casas novas. Fez exame de sangue, tomou antibiótico, recebeu toneladas de mimos e a gripe logo passou. Três meses depois, os ossos calcificaram tortinhos, mas nada que impeça o pega-pega com o amigo quadrúpede ― nem demais peripécias.

"Eles estão inseparáveis! Jimmy é um arteiro extremamente carinhoso. Foi a melhor escolha para o Calvin", escreveu-me Marcella no domingo. Post que começa e termina com foto emocionante merece moldura.



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17.9.15

Aniversariante do mês - setembro de 2015

Sarna de ouvido, malassezia, alergia respiratória, infecção de pele (1 e 2), intolerância alimentar, desidratação. Parece livro de estudante de veterinária. Ou música do Titãs. Ou poema do Manuel Bandeira. Mas trata-se do histórico de doenças do Simba*, de março de 2014 até o meio deste ano ― recheado de remédios que, quando funcionaram, desencadearam outros problemas.

Eis que meu ceticismo capricorniano resolveu dar uma chance à homeopatia. E, quatro fórmulas, dezenas de seringadas e uma infinidade de mensagens trocadas com a Dr. Maru depois, o loiro finalmente pôde relaxar. Enquanto sonha com os bichinhos que caçava no jardim da nossa antiga casa, eu me pergunto onde se esconderam os últimos nove anos.

No petisco, amontoam-se 12 velinhas, deixemos claro, porque ele apareceu em Gatoca com três anos de bônus. E minha vontade é não apagar nenhuma delas, para obrigar o tempo parar.



*Novelinha: Conheça a história do Simba

Outros aniversários: 2014 | 2013 | 2012 | 2011 | 2010 | 2009 | 2008 | 2007

15.9.15

Bicho bem-cuidado não transmite doenças

Vacinar, vermifugar e impedir o acesso do animal à rua evita que você pegue enfermidades sérias, como raiva, sarna e toxoplasmose

:: Raiva

Contágio
Mordida ou lambedura de cães e gatos infectados.
Sintomas
Agitação, sensibilidade à luz e sons altos, dificuldade de respirar e engolir, baba, delírio, agressividade, taquicardia, tremores generalizados.
Riscos
Quando o vírus ataca o sistema nervoso, há paralisia progressiva das extremidades, seguida de morte.
Prevenção
Vacine o peludo anualmente.

:: Sarna (escabiose)

Contágio
Contato com os ácaros causadores da doença – a sarna negra, ou demodécica, não passa para humanos.
Sintomas
Coceira intensa, principalmente à noite, e formação de pontos avermelhados e crostas, especialmente nas palmas das mãos, punhos, braços e tronco.
Riscos
Sem tratamento, surgem lesões na pele, que podem provocar infecções.
Prevenção
Mantenha a casa sempre limpa, proteja seu amigo contra sarna, pulgas e carrapatos, e evite o contato com animais contaminados. Cachorros ainda precisam de escovação e banhos periódicos.

:: Toxocaríase

Contágio
Ingestão de ovos do parasita.
Sintomas
Febre, tosse, diarreia, perda de peso, falta de ar.
Riscos
Quando penetram nos vasos sanguíneos, as larvas espalham-se para vários órgãos. Nos olhos, podem levar à cegueira.
Prevenção
Dê vermífugo para seu pet.

:: Toxoplasmose

Contágio
Contato oral com as fezes do gato contaminado, que devem ficar expostas durante três dias.
Sintomas
Febre, gânglios e órgãos com tamanho aumentado, e transtornos visuais.
Riscos
Cegueira, problemas cardíacos e neurológicos. Se o contágio ocorrer durante a gestação, o feto corre risco de aborto – mamães previamente infectadas não prejudicam o bebê.
Prevenção
Limpe a caixa sanitária do bichano diariamente (grávidas devem usar luvas), não dê comida crua para ele e impeça seu acesso à rua.

:: Clamidiose

Contágio
Contato com as secreções do gato infectado pela bactéria.
Sintomas
Gripe com febre alta, dor de cabeça severa, calafrio, respiração curta, mal-estar, debilidade generalizada.
Riscos
Sem tratamento, a doença pode provocar pneumonia e problemas no rim, fígado e coração.
Prevenção
Vacine seu bichano anualmente.


* Texto escrito para a revista AnaMaria, agora da Editora Caras.

10.9.15

Salvo pela metade

Uma pessoa normal termina a aula de ioga, troca de roupa para almoçar com a amiga que veio da Espanha, vê um gato na rua se desesperar com dois cachorros gigantes e segue viagem zen, arrumada e no horário, acreditando que São Francisco dará um jeito no babado.

Esta jornalista estanca o carro, se põe a conversar com o frajola esgoelando na árvore (os cachorros já estavam longe), caça um adolescente de uniforme escolar para ajudar, trepa nas costas do coitado e demora cinco minutos para descolar todas as garras do bichano do tronco.


No chão, enquanto o adolescente se despede sem entender muito bem o que aconteceu, ganha esfregadas, cabeçadas e mais gritinhos do peludo, que não era castrado, mas parecia bem cuidado. E sai com a criatura debaixo do braço, atrás de um possível dono.

Os vizinhos aposentados já assistiam ao show do portão. E todos apontam o clube, que abriga uma colônia inteira de gatos dóceis, como seu local de origem. Resignada, ela devolve o pequeno sob a porta mastigada pelo tempo, certa de que São Francisco não dará um jeito no babado.

9.9.15

Conscientização: o trabalho por trás dos holofotes

Quando eu caminho pelo DER... (Sim, a epopeia do mutirão de castração terminou em março. Só que, nos meses que se seguiram, nós socorremos vários bigodes da comunidade, conseguimos famílias de comercial de margarina para os filhotes, passamos vergonha, ficamos putos, demos risada, nos emocionamos e continuamos ajudando quem não se vira sozinho ― as histórias estão todas no pé deste post.)

Como eu ia escrevendo, quando caminho pelo DER, as crianças vêm me contar que adotaram novos bichinhos, os adultos denunciam quem andou maltratando os veteranos e quase todo mundo pensa que sou veterinária. Seu Luis, dono do pet shop, me parou na rua no último fim de semana para comentar que o pessoal vive perguntando a data do próximo mutirão.

Acontece que, como vocês sabem, eu sou jornalista. E me dou melhor costurando palavras do que barrigas. Ou ensinando tutores a cuidarem de seus peludos. Ou articulando parcerias que beneficiem bípedes e quadrúpedes. E decidi recorrer ao poder público ― os Centros de Controle de Zoonoses costumam operar uma cota de animais por ano de graça.

Drª. Juliana, do CCZ de São Bernardo, disse que a verba de 2015 acabou e o agendamento só retornará em dezembro. Mas a comunidade já pode ligar para se informar. Imprimi, então, um cartaz com o telefone e expliquei ao seu Luis como incentivar os clientes a fazerem valer seus direitos. Dependendo da demanda, vai que rola um mutirão da prefeitura no DER, né?



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3.9.15

Meditação para os fortes

Se você quiser alcançar shamatha no sol aqui em casa, terá de disputar com os bigodes ― enquanto eles disputam o colo entre si.


E prepare-se para ter o fone de ouvido mastigado pela Chocolate, o som do celular abafado pela bunda do Mercvrivs e o braço esquerdo esmagado pelo salto da Clara, lá do alto da janela.

2.9.15

Favela com emoção

Toda ida ao DER é uma aventura. No domingo, enquanto caçava a pretolina sarnenta para aplicar a segunda dose do remédio, lembrei de todas as vezes em que seu Moacir me recebeu no barraco de cueca samba-canção. E da tarde em que saiu com ela pelas vielas de terra atrás da neta, para ajudar na captura de um filhote assustado, e o pessoal apontava para a "muié dos gatos" ― notem: eu estava ao lado de um idoso seminu!


Várias situações inusitadas foram contadas nos posts do mutirão de castração. Mas acho que nenhuma ganha do dia em que Julia Roberts e Benedict Cumberbath rumaram para a casa da Susan. Durante quase uma hora, eu persegui os peludos na laje da dona Ermínia descalça. Pisei em todo tipo de entulho que uma obra pode gerar. Engatinhei, deitei, rolei. E, para completar o espetáculo, atravessei o telhado do vizinho de bunda. Ida e volta.


Obs.: As fotos são da Pretinha Cover, porque este é um blog de família. Ela está quase boa, aliás, e também quer uma para chamar de sua.


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