.
.

1.5.14

A impotência é amarga

― Oi, moça! A senhora também trabalha com cachorro ou só com gato?
― Nenhum dos dois. Eu trabalho com texto. Por quê?
― É que eu soube que a senhora castrou uns gatos aqui da comunidade e minha cadelinha está cega...

Não adianta: eu mudo de bairro, mas levo na bolsa a fama de louca dos bichos. Mel parou de enxergar aos oito anos de idade e tem passado os dias entre trombadas na mobília e esfregação frenética dos olhos no sofá. Os dois veterinários consultados disseram que não havia o que fazer, só que Carla não se conformou e resolveu pedir ajuda. Jornalista, eu me limitei a fotografar a pequena e enviei por mensagem à Dr.ª Ana Lúcia. A suspeita é de catarata, um quadro até que reversível, embora parcialmente.


Acontece que a cirurgia custa uma fortuna. E o colírio antialérgico que ao menos aliviaria a coceira da peluda precisa de contraste, para garantir que a córnea não possui úlceras. Como coração de pudim não endurece fácil, eu tentei falar com o hospital veterinário da Metodista duas tardes seguidas e acabei apelando à assessoria de imprensa. Apesar de cobrar preços mais em conta, eles não realizam esse tipo de intervenção. E as ideias se esgotaram.

Para Kieślowski, diretor polonês da trilogia das cores, a liberdade é azul, a igualdade branca e a fraternidade vermelha. Se os sentimentos tivessem gosto, para mim, a impotência amargaria a boca.

6 comentários:

Rosana disse...

"Bora" fazer vaquinha?
Pode contar comigo.

Beatriz Levischi disse...

O ideal seria conseguir uma parceria, Rosana. Eu não posso bancar uma cirurgia de R$ 3 mil e virar as costas para os outros pedidos de ajuda. Moro ao lado de uma favela. :\

Silvia Balloni disse...

Bia
Uma vez eu fui ao socorro de um gato paraplégico.
O argumento da pessoa era que não tinha dinheiro pra levar ao vet.
Chegando lá. A primeira coisa que a mãe da pessoa me diz e que se trabalho tb com cachorro. Ela queria que levasse além do gato, os 2 caes de 10 anos. Pq ela estava velha e toda aquela conversa.
Falei que fui levar o gato ao vet mas nem lugar para ele eu tinha. Argumentei e conversei com a pessoa para ele poder ficar lá até conseguir um local para ele.
Ia todo final de semana. O caso quase levou ao rompimento do meu relacionamento com o namorido.
Toda vez que pegava o gato e levava o vet a mesma frase. O animal está desnutrido. Eu pensanva o q a fdp fazia com a ração super premium de 10 kg que tava pagando em n prestações e fazendo bico de barista e banderinha nos finais de semana pra poder custear os meus gatos e contas e mais esse gatinho. Nessa eu castrei os animais de uns 10 vizinhos com a mesma alegação e que por incrível que pareça, embora fossem todos donas de casa, não tinham tempo sequer para acompanhar o animal na castração.
O estresse foi enorme e crescente. Chegou ao ponto de tentar uma jaulinha pra por o gato em casa. A gota final foi qdo uma fdp, pseudoprotetora, dou um filhote de pit para a pessoa, sem castração e sem averiguar se a pessoa tinha como cuidar do animal.
Enfim. O gato piorou com a ida do animal. Pq ficavam ambos no mesmo quintal. Ambos só comiam o resto de comida, pq a ração simplesmente sumia (descobre-se depois que o marido comia a ração com leite).
Descobri quem era a cret$%Ö e ai saiu o bate boca. A minha sorte foi que consegui um lugar pra ele. Me comprometi em "amadrilha-lo" e juntei tudo de remédio que podia. Hoje ele foi adotado.
Falei que mudei para a pessoa. Pq pra ela tanto faz q eu tinha que me deslocar e tinha trabalho. As pessoas acham que se vc faz algo para melhorar o entorno ou vc é rica ou é o Tony Stark. Eu sinceramente vou voltar muitas reencarnações. Pra mim, tinha que haver um teste de posse responsável e para ter filho como qq arma. Se não tem condições e responsabilidade. Castração em humanos

Anônimo disse...

Se for de alguma ajuda... A veterinária onde costumo levar meu bigodes é especialista em oftalmologia e está em São Bernardo. Link do site: http://www.vetmundopet.com.br/

Marco Antonio

Isabella Verdolin disse...

ai, Bia, que situação!!!
vc tem razão, a impotência deixa a gente com a boca amargando... e se vc assumir esse caso (fazendo uma vaquinha), a comunidade inteira vai bater na sua porta!!!
Não sei se aí teria uma opção de clínica veterinária universitária (como em BH há a da UFMG e aqui em Braília há duas particulares), que operam esses casos cobrando apenas a internação. Ou se a dona do animal teria como correr atrás disso junto a alguma Ong com recursos pra tratar animais carentes. É muito importante que ela participe do processo, pra perceber que não é fácil e não ficar achando que vc pode tudo!!!
Vou estar na torcida.

Beatriz Levischi disse...

Ração com leite, minha gente?

Obrigada pela dica, Marco!

Eu até corri atrás, Bella. Mas só perdi tempo, você viu? http://blog.gatoca.com.br/2014/05/sobre-ajuda-tempo-e-limites.html